quarta-feira, agosto 24, 2005

"Lembranças duma terra longinqua"

Numa das poucas viagens que fiz na minha vida, visitei um pais de leste, que viveu uma das piores eras da Humanidade, a Polónia.
Ao andar pelas ruas de Zakopane, não posso deixar de notar o ar sofrido que estas pessoas tem, especialmente as pessoas mais idosas, nota-se pelo seu olhar que passaram por muito.
Acaba por ser normal pois este povo passou pelo que foi o maior genocidio da historia da Terra, o Holocausto imposto por Hitler ao povo judeu.
Em Cracóvia, segunda capital do país, há uma pressa e uma correria característica das grandes cidades, que contrasta com a beleza dos monumentos, maioria igrejas, ou não fosse este o país do Papa João Paulo II, cuja morte presenciei em terras polacas.
Com a morte do Papa, nota-se uma diferença nas ruas, está tudo cabisbaixo, triste, de luto.
Marcou-me a forma como este povo sente a religião e o apreço que tinham por Carol Wojtyla, figura cuja morte me tocou, mesmo não sendo, eu, católico. Nos dias que se seguiram não se podia assobiar nas ruas, cantar, falar mais alto que vinha logo um polaco dizer-nos que estivessemos quietos, que eles estavam de luto e que era uma falta de respeito o que estavamos a fazer.
Mas a morte do Papa não é nada comparado à visita a Auschwitz, local que durante cinco anos serviu de casa e de cemitério a milhões de judeus.
O que senti enquanto visitava aquele local?
Apenas vos digo que pensava para mim constantemente:
Isto não é verdade, isto não aconteceu, e impossível... mas era verdade, tinha acontecido, era possível. Naquele mesmo sitio onde me encontrava, milhões de judeus haviam sido mortos em câmaras de gás e depois queimados, muitos deles ainda vivos.
Havia naquele sitio uma placa que me marcou muito, dizia algo como "Que a história seja relembrada, para que não se repita".

No entanto o povo polaco deu a volta por cima, e a alegria sente-se nas ruas, nas pistas de ski, nas barraquinhas cheias de quinquilharia destinada aos turistas, nos jardins nevados, nos supermercados...
O tradicional Vodka polaco enche o espírito da juventude, e formalidades à parte, é boeda bom e este ano ja fez estragos em Portugal tambem. E tambem é barato, convenhamos.
As pessoas que conheci naquele local ficarão para sempre na minha memória, o grupo de Espanhóis, o grupo de Polacos, o grupo de Malta, que foi com quem mais me dei, e o que me deixa mais saudade, e por fim o grupo de Portugueses, que tão bem fizeram a festa como nenhum outro povo sabe fazer e que não deixa tanta saudade, pois facilmente os reencontro aqui por Portugal.
No dia de voltar, pensava: "Ainda um dia hei de cá passar outra vez, e reencontrar-me com todas estas pessoas"
A verdade é que muito provavelmente nunca me reencontrarei com todas aquelas pessoas outra vez, mas que seria bom, lá isso seria. E a festa que fariamos??
Polónia, uma terra longinqua que me deixa saudade, sitio onde deixo muitos amigos.

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