terça-feira, março 20, 2007

Velho num corpo de Rapaz

Não são poucas as vezes em que me questiono sobre isto...

Terei eu nascido na época errada?
Afinal todos os meus idolos estão mortos.

Bob Marley, Che Guevara, Zeca Afonso, entre outros, todos homens duma época em que por um lado gostava de ter vivido, mas que, por outro, me traz a sensação de que teria medo se nela vivesse.
Uma época com problemas a sério, em que pessoas eram mortas por opiniões, mas que por isso mesmo, a tornava numa época mais aliciante, um desafio maior. Uma época de luta a sério.
Por um lado, sinto uma alegria imensa por não ter de se lutar tanto, mas por outro uma inveja de quem nela participou.
Hoje, viver, é facil de mais, por muito que as pessoas se queixem são poucas as que têm problemas a sério, problemas como os daquela época.
Não querendo dizer que o mundo actual é perfeito, longe disso, mas a luta feita hoje em dia comparada com a das épocas passadas parece superficial, individualista, inferior, menos valiosa.

Será masoquismo? O desejo de viver numa época como aquela?
Ou será apenas uma falta de identificação com a época actual?

Uma época de plástico, baseada no culto da imagem, no consumismo, na conversa fútil, no desinteresse pela política, na falta de civismo e solidariedade, no individualismo... Há sempre excepções, mal de nós se não as houvesse, mas são excepções, raridades.

A música pode ser levada como exemplo do que digo:

Ao ouvir as canções de intervenção de Zeca Afonso e Bob Marley, o liricismo poético de Bob Dylan e Jim Morrisson, a voz perfurante de Janis Joplin e a guitarra psicadélica de Jimi Hendrix, sinto nojo do actual panorama musical, em que qualquer um pega num microfone e mostra a sua falta de talento e de trabalho, compensada pelos apetrechos que usa ao pescoço ou por uma cara bonita. Mais uma vez há excepções, mas são mantidas no anonimato, longe desses admiradores de futilidade e não de qualidade, que acabam por manter os fúteis vivos e os bons mortos.

Ao ler e ouvir as histórias de fugas à PIDE, de reuniões secretas, de manifestações estudantis, de revoluções, há uma emoção que cresce, um sentimento de inveja, mas no entanto, um sentimento de alivio por não o ter que fazer.

No fundo vivo numa contradição. E isso nota-se muitas vezes no meu discurso.

Serei eu um Velho saudosista no corpo dum Rapaz mimado?
Ou apenas um Rapaz desmotivado pelo Presente a que está preso?

Sinceramente não sei, mas não me importava de descobrir.

2 comentários:

Miguel Bugalho disse...

Nesse tempo essas individualidades marcantes tinham ideais vanguardistas para o seu tempo, podes ser igual se vires as coisas de forma diferente, apesar da sociedade nos dar diferentes condições. Quanto à música e tudo relacionado, acredito que as coisas ainda vão mudar...

Abraço []

Anónimo disse...

A parvoice é intemporal.Lamento.



amén